A Itália conta com uma excelente diversidade de terroirs, além de uma rica variedade de castas autóctones de excelente qualidade como a Sangiovese, que virou a rainha de uma das regiões mais importantes do país: a Toscana.
A região é uma das regiões vinícolas mais antigas da Europa. Quando os etruscos ocuparam a região vindos da Ásia Menor em 1000 a.C., já negociavam seus vinhos com os gregos. Quando o território foi anexado ao império romano no século III d.c. a viticultura se tornou uma grande tradição. Com a queda do império romano, a produção de vinhos na região foi abalada mas nunca cessou por completo, e foi no Renascimento italiano que a Toscana voltou com força renovada para o vinho.
O vinho Brunello di Montalcino, como o próprio nome diz, é feito da uva Brunello na região de Montalcino, uma região montanhosa com solos rochosos e clima mais moderado que no sul. O monte Amiata impede que tempestades de verão venham do sul para a região, mantendo um clima fresco e seco. O vinho praticamente foi inventado pela família Biondi-Santi, até hoje o produtor mais prestigiada deste vinho. No século 19, Fabrício Biondi-Santi começou a pesquisar clones de Sangiovese buscando uma uva que gerasse um vinho de longa duração, dando origem a uva Brunello, que tem a pele muito grossa. Por isso, produz um vinho de muita cor e tanino que necessita descansar por vários anos em grandes tonéis de carvalho.
A região de Chianti já foi sinônimo de vinho italiano. O nome das mais importantes regiões vinícolas da Itália já era citado na Idade Média, mas só em 1716 o grão-duque Cosimo dei Medici estabeleceu o território de elaboração do Chianti que correspondia a atual área entre Florença e Siena. O Chianti disputa com o vinho do Porto a marca de primeira denominação de origem do mundo e tem por símbolo um simpático galo preto no selo que lacra a parte superior da garrafa. Esse galo preto vem da história curiosa pela disputa de fronteiras entre Florença e Siena. Para dar fim a essa disputa territorial as regiões decidiram que um cavaleiro de cada cidade deveria sair de sua cidade natal em direção a cidade rival quando o primeiro canto do galo soar. No lugar onde os cavaleiros se encontrassem seria delimitada a fronteira. Em Siena, um galo branco foi preparado, alimentado e esperavam o canto ao raiar do dia. Foi o que aconteceu. No primeiro raio de sol o galo cantou e o cavaleiro partiu. Em Florença, um galo preto foi deixado com fome no dia anterior e antes mesmo do raiar do dia já estava cantando a plenos pulmões. O cavaleiro de Florença conseguiu uma grande vantagem sobre o adversário e boa parte da região de Chianti ficou com o time do galo preto.
Com tantas denominações de origem na região da Toscana, muitos produtores decidiram ignorar as regras DOCG e produzir vinhos segundo as próprias regras usando a Sangiovese como base da produção ou misturando as uvas francesas na produção, dando origem aos Supertoscanos. Essa dissidência virou moda e hoje esses vinhos alcançam excelente qualidade, com preços correspondentes.
Um dos mais famosos e premiados vinhos da Toscana foi criado por um mero acaso. Na região de Bolgheri, um piemontês chamado Mario Incisa decide fazer seu próprio vinho de uva Cabernet Sauvignon, pois queria produzir um vinho que lembrasse o primeiro que havia bebido quando criança. Incisa cuidou de todos os processos de perto para produzir o vinho e introduziu uma grande novidade para a produção de vinhos na Itália: barricas francesas de 225 litros. Apesar de todo esmero, o resultado foi o pior possível: um vinho extremamente ácido e tânico. Mario não teve outra alternativa senão deixar seu vinho abandonado nas barricas e pensar em um novo projeto. Anos depois, resolveu experimentar novamente o vinho e se deparou com uma feliz surpresa. O carvalho amaciou os taninos, diminuiu a acidez e deu estrutura e sabor de um grande vinho. Nascia assim o Sassicaia 1968, talvez o primeiro supertoscano da história.
Não só de tintos vive a Toscana. Apesar de uma produção menor, o vinho branco também é produzido na região. Na pequena cidade de San Gimignano, considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco, foi plantada a uva Vernaccia, que dá origem ao vinho branco de mesmo nome. A casta já fora citada por Dante Alighieri e esteve na mesa dos Medici em Florença. Após o século 18, a uva caiu no esquecimento e quase desapareceu, mas na década de 1960 seu plantio foi retomado.
A Toscana é uma região apaixonante com vinhos magníficos dentre os mais famosos do mundo, e ainda tem a belíssima cidade de Florença, onde floresceu o Renascimento italiano que influenciou por séculos todo o mundo ocidental.